sábado, 4 de maio de 2013

Repórter fica um ano longe da internet e volta para contar como foi


Editora Globo
Crédito: The Verge / Michael Shane

Há pouco mais de 12 meses, o editor do site The Verge Paul Miller anunciou que faria um experimento: ele queria passar um ano todo offline. E quando dizemos offline, não estamos falando que ele apenas parou de usar suas redes sociais, ou que continuava mandando mensagens por WhatsApp: todas suas conexões com a internet foram cortadas, desde o seu laptop até o seu GPS.
O seu período de isolamento virtual terminou esta semana. E, agora, Miller volta para contar a sua experiência. De acordo com ele, no início do experimento, sua vida ficou melhor e mais produtiva. Escreveu mais, estudou mais, leu mais e fez todas as coisas que internautas assíduos acham que serão capazes de fazer se, um dia, abrirem mão de acessar a internet.
No entanto, com o passar dos meses, Paul percebeu que estar offline não resolveria seus problemas pessoais – eles permaneciam lá. E a procrastinação e falta de produtividade eram seus produtos e não da internet. Fora da rede, ele encontrou outros motivos para mantê-lo distraído e longe de suas resoluções. “Achei que eu fosse me tornar uma pessoa melhor. Eu não queria encontrar este Paul no fim dessa minha jornada de um ano”, escreve, em artigo publicado no The Verge, que resume todas as mudanças que ele sentiu.
GALILEU conversou com Miller para saber mais sobre sua experiência e ficar mais por dentro dos detalhes sobre seu exílio da rede – confira:

GALILEU: Antes da experiência, você acreditava que ficar longe da internet por um ano inteiro o tornaria, de várias formas, uma pessoa melhor. Mas, depois do teste, você diz ter encontrado formas offline de perder seu tempo e tomar decisões erradas. Por que temos essa tendência de culpar a internet por nossos erros?
Paul Miller: Acho que todos nós fazemos muitas decisões erradas e adoramos a ideia de ter algo para culpar a não ser nós mesmos. Ouvi vários casos de pessoas que resolveram se afastar da internet e fizeram muitas coisas boas com seu tempo extra – e esse era eu no começo, então sei que é possível ser uma pessoa melhor. Mas você precisa, na verdade, de determinação, no período de folga da internet. Ficar offline não resolve nenhum de seus problemas sozinho. 
20 anos atrás, o primeiro website foi lançado. E, hoje, você está respondendo uma entrevista sobre como foi ficar offline um ano inteiro – coisa que o mundo todo encara como um feito impressionante.
Miller: Isso é uma prova de como nós podemos nos adaptar, de como nós somos capazes de usar algo tão bizarro quanto a internet de forma tão fluente. Mal lembramos de uma época em que ela não existia. Mas é importante lembrar também de como a internet é única, das diferenças que ela tem para outras experiências humanas.
Que diferenças seriam essas? 
Miller: Elas não são necessariamente boas ou ruins, mas agora que voltei para a internet eu vejo como ela é chocante e insana e posso compará-la com a nossa existência offiline. Temos tanta informação agora, tanta presença na vida de outras pessoas. E a capacidade de nunca nos sentirmos entediados de novo.
E quais foram as mudanças que estar offline trouxe para sua vida social e amorosa? Afinal, sem as ferramentas online é mais difícil conhecer pessoas, conversar com elas e até flertar, certo?
Miller: Eu perdi contato com várias pessoas, o que foi mais culpa minha do que delas. Sem e-mail e serviços de mensagem você precisa ser muito proativo e decidido com seus planos sociais. Um encontro, platônico ou romântico, não sai mais de uma simples e casual conversa online. Você precisa se arriscar em uma ligação telefônica e combinar um encontro certo: você quer fazer X coisa comigo no dia X às X horas? É completamente intimidador e esse ano eu não sinto que eu venci meus momentos intimidadores – pelo menos não tão frequentemente. E meus amigos, na hora de combinar coisas comigo, também sentiram a mesma dificuldade.
Antes de sair da internet, quais eram seus hábitos online – além de frequentar sites e usar ferramentas no trabalho? Como você passava seu tempo livre na web?
Miller: A maior parte do meu tempo livre eu usava assistindo vídeos no YouTube e batalhas de StarCraft através do Twitch.tv. Também navegava no Reddit e assistia Netflix. Mas é importante ressaltar que eu usava cada aspecto da internet para o trabalho, constantemente. Eu não me desligava: email, serviços de mensagens, feeds de notícias, Twitter e assim por diante. Estar na internet, em todos os seus lugares, era meu trabalho. Mas hoje eu acho que eu me espalhei de forma muito leve por eles, como uma camada de manteiga muito fina por cima de uma fatia de pão. Eu estava lá, mas não havia profundidade.
Mas como você pode dizer que ficou offline quando o mundo todo está online? Indiretamente, você não estaria se conectando à internet através de alguém quando pede pra uma pessoa te ajudar a encontrar um endereço e ela usa o Google Maps, mesmo que a pesquisa na internet não fosse sua intenção inicial? 
Miller: Eu procurei pedir ajuda apenas para pessoas que já sabiam das informações que eu buscava. Eu nunca pedi pra alguém pesquisar algo, por exemplo. Mas, sim, o problema do meu experimento é que eu era o único offline. Então eu precisava trazer as pessoas para o meu nível para interagir com elas. Mas a boa notícia é que pessoas ainda existem, e elas são muito divertidas de se conversar. Gostaria, aliás, de agradecer a todos que me deram algum tipo de ajuda neste ano.
E, desde esta semana, você está de volta à rede. Quais são suas primeiras impressões?
Paul Miller: Só digo que é um mundo insano, estressante e absolutamente incrível.
Fonte: Globo

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